Meu objetivo é compartilhar com toda a comunidade de Aprendizagens Visíveis, os resultados que venho obtendo por usar as Rotinas de Pensamento em sala de aula, para o desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita, produção e oralidade, nas aulas de Língua portuguesa. Mas antes, eu gostaria de propor que refletissem sobre o cenário que eu encontrei ao iniciar as aulas com o grupo de alunos do 1.º ano, pós, pandemia, conforme abaixo:
Grupo com 16 alunos, entre 6 e 7 anos, que fizeram o último ano da educação infantil (letramento), em casa, por meio da tela. Sala de aula com mesas duplas, porém divididas com acrílico ao meio, uso de máscaras por todo o período escolar, limitação no uso e compartilhamento de materiais e alguns alunos acompanhando as aulas pelo zoom, pois não se sentiam seguros em frequentar a escola.
Bem, esse era o layout da nossa sala de aula! No entanto, o problema principal observado, eram os déficits de linguagem, dificuldades de interação e com a espera, e problemas na resolução de conflitos.
A necessidade de desenvolver as habilidades socioemocionais em paralelo ao desenvolvimento da linguagem foi o mote do meu “Smart Goal”, desenhado e planejado para o grupo de alunos que iniciavam naquele momento a alfabetização.
As perguntas que circulavam a minha mente era: “Quais recursos usarei para atingir a todos os alunos individualmente? Quais serão as evidências individuais de aprendizagem? Como engajá-los e torná-los mais participativos e interessados nos temas propostos? O que fazer para modelar um discurso mais coeso e conciso?” De que forma as estruturas de aulas mais ativas me ajudarão a ampliar o repertório de vocabulário dos meus alunos e o conhecimento das palavras? Quais atividades de registro serão propostas para os alunos que ainda não se apropriaram da escrita? Como será e se dará o registro das observações feitos por mim durante as aulas? Como eu usarei a avaliação formativa para a aprimorar e dar continuidade ao projeto e possibilitar que os alunos avancem? Ao final da conclusão das atividades, todos terão avançado de 1 a 2 pontos na avaliação por rubricas, em comparação com a avaliação diagnóstica do início do processo?
Acredito que boa parte das perguntas acima citadas, já foram as perguntas de muitos professores que como eu, sentem-se inquietos ao se deparar com a necessidade e os desafios de oferecer uma educação inovadora e centrada no aluno.
Então vamos lá! Vou contar o que decidi fazer para possibilitar que os alunos se tornassem competentes em uma comunicação oral bem articulada, com um repertório de vocabulário mais rebuscado, respeitando turnos de fala, exercitando a habilidade de escuta e tornando-se independentes na solução de conflitos possíveis para a faixa etária.
Em primeiro lugar, pensei no grande objetivo do trabalho, depois parti para as habilidades da BNCC que deveriam ser desenvolvidas (oralidade) nas Unidades de trabalho já escolhidas para o ano. Os livros, a princípio, seriam os que nos apoiariam nas Unidades de: brincadeiras Orais, Contos de Fadas, Textos Informativos (sob o tema “Animais”) e Legendas. No entanto, no decorrer dos dois primeiros meses de aula, notei um interesse em histórias, cujos personagens, eram animais. Esta foi a primeira adaptação feita. Posteriormente, escolhi livros com personagens animais que se encontravam em contextos de dilemas a serem resolvidos.
O primeiro livro paradidático, foi “A Superpreguiça!”, uma preguiça que não se sentia útil e sonhava em se tornar uma super-heroína. A proposta inicial foi apresentar a história por meio das Rotinas de Pensamento. Por meio de tal metodologia, os alunos do 1.º ano experienciaram a descoberta do “Tema” da aula proposta, notaram como o pensamento interfere na forma como eles enxergam o mundo à sua volta e como o pensamento do outro interfere nas suas próprias ideias, ajudando-os a construir novos conceitos.
A experiência de passar pelas etapas: “Eu vejo”, “Eu penso” e “Eu pergunto”, criou um ambiente favorável ao desenvolvimento da “Oralidade”, trazendo ao repertório dos alunos, novos dizeres, que a cada recorte de imagem, mudava e se articulava.
Perguntas como: O seu pensamento mudou? O que faz você pensar isso? Você acredita que a fala do seu amigo mudou o seu pensamento? Por que você mudou de ideia? As perguntas mostravam aos alunos que suas falas refletiam os seus pensamentos e os seus pensamentos se conectavam com os demais do grupo. A cada momento e a cada nova ideia, tudo podia mudar.
Na primeira parte, “O que você vê?”, 3 slides que iam ampliando a imagem foram apresentados na tela, e os alunos oralmente comentavam enquanto eram filmados (observação e registro para as rubricas de sondagem inicial). No segundo momento, “O que você imagina?”, mais 3 slides que ampliavam ainda mais a imagem, foram apresentados e os alunos continuavam trazendo suas hipóteses que se ampliavam cada vez mais. Por fim, com a imagem foi revelada e os alunos deveriam em pares, compartilhar suas dúvidas e curiosidades para formularem juntos, perguntas acerca da imagem que se conectava com o tema da aula. Nesse momento, os pares formados eram de alunos escritores com alunos não escritores, para que eles se apoiassem na atividade de escrever as perguntas em Post-it (papel adesivo).
As perguntas registradas e coladas no cartaz dariam a continuidade da aula do dia seguinte. No entanto, as perguntas demonstraram que eles já sabiam que se tratava de um livro e, assim, suas dúvidas passaram a se relacionar com curiosidades sobre a história e o personagem. O momento da descoberta foi celebrado, pois a maioria dos alunos, correu para a tela na tentativa de abraçar o personagem que daria à luz a uma história muito esperada. A análise da capa do livro foi feita e um vídeo trailer da história foi apresentado.
Dia seguinte…
Retomamos as perguntas do cartaz, relembramos o que foi observado no Trailer no dia anterior, e finalmente lemos a história. Nesse momento, a história foi ouvida com ouvidos muito curiosos e atentos, com um valor que nunca havia sido observado, até porque aquela história era o produto do desafio da descoberta, da observação, da investigação e da interação entre os pares e entre o grupo. Foram as Rotinas de Pensamento que despertaram o gatilho da curiosidade.
Após o término da leitura, uma discussão relacionada aos elementos da história, foi iniciada.
Para a conclusão da atividade, os alunos registraram suas interpretações com a proposta, “Cor, Símbolo e Imagem”. Eu modelei na lousa o que seriam as minhas escolhas e opções, pois se tratava de uma atividade totalmente desconhecida por eles. Logo após a modelagem, apaguei a lousa e solicitei que pensassem em uma Cor que representasse a essência da ideia da história, em seguida, um Símbolo que representasse a história ou personagem, e uma Imagem, que representasse o livro.
Abaixo, compartilho as rubricas que me ajudaram a observar os objetivos de aprendizagem durante todo o processo, para que eu não perdesse de vista o que realmente eu pretendia alcançar e os caminhos que os alunos precisavam percorrer.
A atividade da Superpreguiça, foi a primeira da sequência e não parou por aí, ela tomou uma proporção não imaginada e foi ampliada para atender as solicitações dos alunos que trouxeram ideias para a continuidade do trabalho. Sim! Houve desdobramentos! Mas, as informações do que aconteceu depois, será conteúdo para um próximo artigo.
Paula Castro
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5 respostas
Que experiência linda, Paula! Quero muito ver o próximo post e já deixo um pedido: nos conte como você usou a rubrica: para avaliar o registro por meio da Rotina cor/símbolo/imagem ou mais algum registro? Os alunos conheceram o conteúdo da rubrica? Você conseguiu manter essa cultura de pensamento compartilhado nas aulas seguintes?
Obrigada Júlia! As rubricas foram usadas para avaliar não só o resultado da Rotina cor/símbolo/imagem, como todas as Rotinas do Projeto. Como o que estava sendo avaliado era a oralidade, os alunos realizavam as atividades de registro e depois apresentavam e justificavam para a sala, as suas escolhas. Nesse momento, a forma como comunicavam e expressavam suas ideias, eram observadas, considerando o que havia sido proposto e o que se pretendia alcançar.
Sim, os alunos sabiam que seriam observados em tais requisitos, porém, as rubricas foram apresentadas de maneira mais lúdica. Uma conversa sobre o tom de voz, a postura, a atitude de olhar para quem esta ouvindo, usar palavras mais formais evitando o “tipo assim”, poucas pausas, discurso coerente sem sair do tema, foram estratégias para fazê-los entender a importância de uma comunicação eloquente. Após a conversa, modelei com a ajuda de outra professora o que seria um discurso claro e conciso e outro totalmente displicente. Os alunos se divertiram com isso e julgaram corretamente o melhor discurso.
Quanto a cultura de pensamento, com certeza ela se manteve presente a partir daquele dia, pois as atividades da sequência contavam com diversas Rotinas de Pensamento. Os alunos passaram a reconhecer o potencial do pensamento. Certa vez, antes de começarmos a aula, presenciei um grupo de alunos simulando uma rotina, eles brincavam num faz de conta e faziam as perguntas: O que você vê? O que mudou? ….Foi bem engraçado e interessante.
Que máximo! Adoramos esses testemunhos das falas espontâneas dos alunos quando revelam os efeitos de ganhar um repertório de pensamento mais visível! 🙂
Amei essa proposta! Observo que foi potente para o aprendizado dos estudantes.