O que significa pensar a matemática de modo aberto, criativo e visual? Entrevista com Sandra Mônica Paulos

O que significa pensar a matemática de modo aberto, criativo e visual?

Você também acha que existem pessoas que nasceram aptas à área da matemática e outras não? Qual é sua mentalidade a respeito desse tema? Temos abordado esse assunto no novo curso da Ativa, lançado em janeiro de 2023  “Matemática visual, aberta e criativa” organizado pela professora Sandra Monica Paulos. A experiência teve tanto sucesso que vamos repeti-la agora em abril junto com a professora Danielly Abud. Confira abaixo uma entrevista exclusiva de Sandra sobre o tema e, ao final, seus posts de práticas matemáticas no Blog da Ativa e suas lives no canal de youtube da @ativaedu.

Professora Sandra, resuma em poucas palavras o que são mentalidades matemáticas e por que são tão inovadoras?

Mentalidades Matemáticas é um método desenvolvido  por Jo Boaler, professora da Universidade de Stanford que defende que todo indivíduo é um ser matemático. Em seu estudo, Jo aponta que todos nós podemos aprender matemática em altos níveis e nos apaixonar por essa área do conhecimento. Ela defende o ensino da matemática aberta, criativa e visual, de forma que questões curtas e fechadas sejam deixadas de lado, bem como a simples aplicação de um conjunto de procedimentos a serem memorizados. Pautada nos estudos da neurociência, Jo Boaler mostra-nos a importância de desenvolvermos mentalidades de crescimento, ressignificando a ideia que temos sobre o erro e a rapidez. Ao desenvolvermos mentalidades de crescimento passamos a acreditar em nosso potencial, aceitar que podemos errar e aprender, passamos a nos esforçar no desenvolvimento de novas habilidades de forma a nos tornarmos protagonistas de nosso ensino e aprendizagem.

O conceito fundamental é: não existem pessoas que nasceram com cérebros matemáticos ou que já são naturalmente aptas à matemática. Do ponto de vista neurobiólogo, a não ser em casos de deficiências ou necessidades especiais, todos temos aptidão equivalente para o pensamento matemático e tudo depende de como somos estimulados e ensinados a pensar matematicamente. Cabe à escola, então, propor práticas estimulantes, inclusivas e equitativas para que todos se apaixonem por matemática e desenvolvem uma mentalidade matemática de crescimento: ou seja de que sempre podem aprender mais e melhor, sobretudo quando cometemos erros e os revisamos, tomando consciência sobre nosso próprio modo de pensar. 

Jo Boaler pensa com base no conceito de mentalidade de Carol Dweck, famosa pesquisadora de Stanford que introduziu os conceitos de mentalidade fixa e mentalidade de crescimento. Na mentalidade fixa achamos que já sabemos ou não sabemos e, por isso, desistimos de tentar e buscar novas alternativas, pois não acreditamos que podemos mudar. Já na mentalidade de crescimento sabemos que sempre podemos superar o nível atual de conhecimento e que, sempre que desafiados, estamos abertos e disponíveis a buscar novas estratégias para resolver problemas , mudar nosso pensamento, alargá-lo e aprender com novas situações. A proposição de Dweck é válida para todas as áreas e JoBoaler a aproximou do ensino de matemática, suas propostas são muito inovadoras e acessíveis: trazer experimentações e desafios com matemática visual, muitas vezes por meio de obras de arte. 

Qual a novidade que as mentalidades matemáticas trazem ao ensino da matemática?

Um dos principais princípios dessa proposta é criar oportunidades para que todos possam aprender, é proporcionar uma matemática para a equidade e não apenas para a igualdade. Ou seja, ajudar a dar a cada um dos estudantes o que precisam para que todos se desenvolvam plenamente. Nessa proposta também aprendemos a importância de ressignificar o erro, mostrando o quanto ele pode ser positivo para que a aprendizagem se torne significativa, além disso, verificamos o quanto a  profundidade em que o ensino e aprendizagem acontecem é mais importante do que a quantidade e/ou rapidez com que se faz já que, desenvolvendo a profundidade ganhamos a qualidade de raciocínio matemático, o gosto pela disciplina e o engajamento no pensar matemático.

Como essa proposta se articula com as Aprendizagens Visíveis?

Ao aliar as ferramentas propostas pelo Projeto Zero (que aprendemos com Julia nos cursos da Ativa Educação) às mentalidades matemáticas e o conceito da etnomatemática, podemos tornar a aprendizagem visível, dando espaço para a imaginação e a criatividade, para o desenvolvimento do raciocínio que vai além dos muros da escola, tornando essa aprendizagem visível tanto para o aluno quanto para o estudante.

Pode nos exemplificar com 2 ou 3 imagens evidenciando sua definição para ilustrar a todos do que se trata?

Sequência de Fotos 1: Fazendo estimativa com frações – Qual fração representa a parte de papel cortado? 

Sequência de Fotos 2: Números Visuais –  Essa atividade convida os alunos a investigar uma representação

A proposta com números visuais é realmente interessante. Criada por Stephen Von Worley, fascina crianças e adultos e oferece aos alunos uma oportunidade importante para entender os números e pensar visualmente sobre eles. Quando os alunos pensam visualmente em matemática, bem como com números e símbolos, estão atravessando múltiplas dimensões do cérebro, usando caminhos diferentes,  aumentando o poder do aprendizado de matemática e criando conexões entre as áreas visual e semântica do cérebro para a compreensão profunda.

O que um professor só vai aprender no curso da @ativaedução?

Na ATIVA Educação tenho aprimorado minha prática docente, repensando minha didática pedagógica, principalmente no ensino da disciplina matemática. Explicitamos a proposta de ensino e de aprendizagem utilizando as ferramentas propostas no Projeto Zero, bem como metodologias para tornar a aprendizagem visível tanto para o professor quanto para o estudante. Aprendi na Ativa e isso, hoje, faz parte do meu dia a dia na sala de aula e tudo isso vem acontecendo após meu primeiro contato com Julia Pinheiro Andrade, fundadora da Ativa Educação, o qual passei a seguir e fazer todos os cursos que vão sendo lançados.

No nosso curso de matemática, conceituaremos uma nova maneira de planejar o ensino dessa componente curricular baseado nas evidências neurocientíficas e nos princípios dos métodos mais ativos e visíveis de aprendizagem, fortalecendo a participação e o engajamento de todos os estudantes. Apresentaremos a pesquisa teórico-prática “Mentalidades Matemáticas” de Jo Boaler, da Universidade de Stanford e na sua plataforma YouCubed, aliadas aos conceitos abordados no Programa de Etnomatemática proposto por Ubiratan D’Ambrosio. Essas abordagens inovadoras do conhecimento matemático auxiliam a todos e todas que participarem deste curso a estabelecerem conexões entre a Matemática e a realidade que os cerca, tecendo relações entre aprendizagem visível, rotina de pensamento e metodologias ativas. O resultado é a vivência de ferramentas práticas e de uma abordagem pedagógica que gera uma cultura de pensamento: uma mentalidade matemática inclusiva e equitativa, que promove a aprendizagem de todos. (Obs. Não aprofundaremos conceitos matemáticos, mas sim formas de apresentar e trabalhar a matemática);

Se quisermos saber mais sobre Mentalidades Matemáticas, por onde buscar mais informações?

O site da Rede Mentalidades Matemáticas (Rede MM) é voltada para educadoras(es) que buscam metodologias, abordagens e práticas centradas na aprendizagem significativa e no protagonismo dos aprendizes. Lá é possível se aprofundar mais no estudo de Jo Boaler Home – Mentalidades Matemáticas (mentalidadesmatematicas.org.br)

Também podemos ler os livros publicados pela autora Jo, que são um divisor de águas na prática docente. Alguns deles, que eu sugiro, são: Mentalidades Matemáticas: Estimulando o Potencial dos Estudantes por Meio da Matemática Criativa, das Mensagens Inspiradoras e do Ensino Inovador, O Que a Matemática Tem a Ver com Isso? Como Professores e Pais Podem Transformar a Aprendizagem da Matemática e Inspirar Sucesso e Mentalidades Matemáticas na Sala de Aula: Ensino Fundamental – Série Desafios da Educação.

A grande professora Jo Boaler desenvolveu o super-site de conteúdos e metodologias de ensino de matemática chamado Youcubed, no qual apresenta propostas inovadoras e ao mesmo tempo fáceis de implementar em sala de aula, como trabalhar com matemática visual e desafios para análise e reconhecimento de padrões. Em português, já contamos com quatro livros escritos por Jo Boaler apresentando a teoria e a prática do conceito de Mentalidades Matemáticas, aprofundando-os em exemplos para Ensino Fundamental de anos iniciais e de anos finais.

Quer saber mais?

Sandra já participou conosco escrevendo na nossa Comunidade de Práticas em Aprendizagem Visível no Blog da Ativa Educação e, em agosto e setembro de 2022 realizamos duas lives incríveis com a professora Sandra sobre as chamadas Mentalidades Matemáticas: um novo modo de conceber o ensino da matemática propondo discussões intensas e ativas em sala de aula para que todos experimentem e acreditem que são capazes de pensar matematicamente. Confira no canal de Youtube da Ativaedu: Mentalidades Matemáticas: o que são e de onde vem essa proposta e Como trabalhar uma nova mentalidade matemática em sala de aula?

Sandra já escreveu dois posts para a nossa Comunidade de Práticas em Aprendizagens Visíveis: “Refletindo com frações” e “Rotinas de Pensamento em Situações Problema” , dois relatos potentes de práticas cujos ótimos exemplos explorados em suas lives! Não perca!

Mini Bio

Sandra Monica Paulos é Pedagoga, também graduada em Letras e Matemática, com MBA em Gestão Escolar, pela USP, e Especialização em Psicopedagogia. Professora de Matemática no EF e Projeto de Vida no Ensino Médio. Cofundadora do Grupo de Estudos GPE (Grupo de Pesquisa e Estudo), oferecendo mentorias, cursos e oficinas de formação a profissionais da área da educação. Faço parte da equipe Canguru na elaboração de planos de aula e da Célula 1 de Mentalidades Matemáticas pelo Instituto Sidarta.

 

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Instagram: smp_sandramonicapaulos

 

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