Rotinas de Pensamento para descobrir o poder de construir o próprio aprendizado

 Contexto escolar

O relato diz respeito à implantação de Rotinas de Pensamento no contexto diário dos alunos da 1ª série do Ensino Médio nas escolas as quais leciono, na cidade de João Pessoa, PB. Sou professora de Projeto de Vida e Redação, e é exatamente junto a esses componentes curriculares que desenvolvo atividades para “destravar” a mente dos estudantes sobre a forma superficial e, por inúmeras vezes, limitada com a qual eles experimentam os temas e conteúdos curriculares. A missão é ajudar a construir uma mentalidade em que os alunos se percebam, dia a dia, mais profundamente engajados com a construção de seu próprio aprendizado.

 Ser Educador: Teoria x Prática.

Sou professora há 25 anos. Desde que comecei a lecionar, minhas inquietações com as metodologias já eram bem latentes. Na verdade, elas estavam comigo desde o tempo em que eu ainda era aluna: cadeiras enfileiradas, professor despejando conteúdos, poucas apresentações marcantes, cobranças pelo cérebro “super potente” em memorizar fórmulas. Enfim! Eu não desejava ser professora para reproduzir o que  me afastava do prazer de aprender. Queria que meus alunos desejassem minha aula, ficassem ansiosos por ela e por tudo que poderíamos descobrir. Os anos foram se passando, e eu me esforçava bastante para não reproduzir práticas que geravam pouco ou nenhum interesse em meus alunos. E pra dificultar ainda mais, a universidade não contribuiu muito – e ainda não contribui o suficiente – para que minha formação (e a de tantos outros educadores e educadoras) estivesse estruturada de forma efetiva nos pilares de uma educação significativa.

 “E houve luz no firmamento da aprendizagem”

Sempre soube que para fazer das minhas aulas um momento significativo, eu precisaria me preparar buscando as metodologias que gerassem aprendizagem de verdade. Aquela que se efetiva com alunos envolvidos no processo de construção de seu próprio conhecimento. Em meio às minhas tantas investigações, descobri o perfil da Ativa Educação e passei a acompanhar as lives da Júlia Pinheiro Andrade, em que as Rotinas de Pensamento Visíveis do Projeto Zero da Faculdade de Educação de Harvard, os livros “Aprendizagens Visíveis para Professores: como maximizar o impacto da aprendizagem”,  ” Os 10 princípios da aprendizagem Visível: educar para o sucesso” do professor John Hattie e  “Aprendizagens Visíveis para Professores:  Experiências teórico-práticas em sala de aula”, da Júlia Pinheiro Andrade foram o que costumo chamar de “divisor de águas” na minha vida de professora. Senti como se a rota para construção de uma aprendizagem significativa tivesse ficado mais clara, “visível” de ser percorrida. As reflexões que me surgiram com as leituras foram muito fortes e me possibilitaram conhecer o que realmente promove impacto na aprendizagem de nossos estudantes!

Um terreno árido!

À medida que fui ampliando as leituras, o desejo de aplicar em sala de aula ficava ainda maior. E, junto com ele, o desejo de compartilhar com os colegas de trabalho tudo que eu estava aprendendo, para que juntos pudéssemos transformar, não apenas nossas salas de aula, mas todo o contexto escolar de modo impactante. Foi exatamente nesse momento em que percebi um enorme desafio: a resistência ao novo. Alunos sem nenhuma prática junto à construção de uma rotina com reflexões sobre sua própria aprendizagem, e professores conformados em se manter nas práticas antigas. Um contexto em que ainda me sinto solitária na luta por uma causa que deveria ser de todos os educadores. Entretanto, percebi que, como diz o prof. John Hattie: “São alguns professores, fazendo algumas coisas com certas atitudes ou sistema de crenças que verdadeiramente fazem a diferença”. Ou seja, ensino e aprendizagem bem-sucedidos envolve professores apaixonados e motivados, como afirma o próprio Hattie. Aqui no Nordeste, falando com mais propriedade sobre minha cidade e meu estado, a Aprendizagem Visível e as Rotinas de Pensamento ainda são um mundo distante do ponto de vista de serem intencionalmente promovidas no contexto escolar, sobretudo no que diz respeito a sua implantação nos planejamentos e na formação dos professores.

A coragem de ousar começar

Eu sabia que seria muito difícil mudar a perspectiva dos professores. Alguns até se revelam com certa “abertura ao novo”, mas a maioria persiste em práticas antigas. Resolvi dar passos solitários, mas que eu tinha convicção sobre os benefícios que as Rotinas de Pensamento trariam para a vida dos meus alunos. Diante disso, iniciei a aplicação das Rotinas de Pensamento para introduzir e explorar ideias: Vejo/Penso/Pergunto; Conecto/Estendo/Testo; 321 e Bússola. Elas me ajudam a preparar o “terreno”, a mente dos estudantes para se perceberem construindo rotas de pensamentos que promovem reflexões sobre suas capacidades de enxergar mais profundamente cada conteúdo com os quais eles entram em contato. Essa etapa se configurou como uma estratégia para ir amadurecendo o terreno para novos conhecimentos.

As aulas de produção textual foram as primeiras que implantei as rotinas, pois sentia que antes, os temas não promoviam tanto impacto nos alunos e isso se refletia numa escrita com pouco uso de repertório produtivo. A Rotina de Bússola, por exemplo, gerou um contexto de percepção ampliada sobre problemáticas sociais, tão exploradas no contexto da dissertação argumentativa.

Em seguida, vieram as Rotinas para Sistematizar um Pensamento – quando os mapas conceituais ganharam a cena com suas formas bem originais diante da criatividade  dos estudantes – e as Rotinas Para Sistematizar e fazer um balanço individual, que geraram inclusive um ambiente desafiador com a “Ver 10 x 2”, em que a reflexão sobre o próprio pensamento e sobre a forma com a qual cada um aprende foi explorada de tal modo que os alunos revelaram maior capacidade de percepção sensorial (aprender mais atentamente), cognitiva (o pensar intencional e cuidadoso) e, motivacional (inclinação para buscar conexões e novos questionamentos).

Instalar Rotinas de Pensamento Visíveis é desafiador, sobretudo, em um ambiente onde esse conceito é desconhecido. Entretanto, já consigo ver os impactos positivos nas produções dos alunos e em suas indagações diárias à medida que novos conhecimentos surgem. Essa é a energia que me renova e me impulsiona a acreditar e continuar.

3 respostas

  1. Genial querida! Me identifico com seu relato! Foi exatamente assim comigo quando eu mesma descobri e comecei a trabalhar com Rotinas de Pensamento Visível há 5 anos atrás!

  2. Fico muito feliz de saber que podemos muito juntos! Sejamos inspiração uns para os outros e assim cresça nossa fortaleza!

  3. Com dicas práticas e exemplos claros, o texto apresenta diferentes rotinas de pensamento que podem ser aplicadas em sala de aula, contribuindo para que os estudantes se tornem protagonistas de sua própria educação. Além disso, o artigo reforça a importância de se investir em metodologias ativas e em uma educação mais significativa e transformadora.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine nossa newsletter e receba dicas para
professores no seu e-mail, gratuitamente