“Metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes para a construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida” (MORAN, 2018, p.4).
Metodologias ativas podem se valer ou não de tecnologias digitais, mas sempre devem buscar propiciar:
1) múltiplos modos de interação do aprendiz com os conteúdos de aprendizagem;
2) múltiplos modos de interação entre os estudantes e;
3) múltiplos modos de interação do estudante com o professor.
Há espaço para aula expositiva do professor e para a instrução direta, mas esse não pode ser o único e predominante modo de instruir, explicar e conduzir a aula. A ideia é que os estudantes ganhem repertório em práticas que estimulam competências e habilidades mais profundas: registrar conhecimentos prévios e comparar o que se sabia e o que se aprendeu após uma leitura ou debate conceitual; compreender e seguir um roteiros de pesquisa, envolvendo responder a “quizzes” dinâmicos que tragam feedback para aprofundar a aprendizagem e desenvolver diferentes modos de colaboração e trabalho em grupo; aprender a escutar ativamente e a falar com base em argumentos, aprender a dividir papéis, a se autoavaliar e a dar devolutivas pedagógicas são exemplos de práticas bem elaboradas que trazem outro nível de profundidade ao ensino a aprendizagem em qualquer segmento educacional.
Ou seja, quando se trata de métodos mais ativos de ensinar e de aprender, professores e estudantes se deslocam de seus papéis tradicionais (o professor expor e o aluno anotar) e diversificam novas posições para que, no processo de aprendizagem, o estudante se relacione com a construção do seu próprio conhecimento de modo mais ativo, consciente, consistente e profundo.
Pesquisas das Ciências da Aprendizagem, um campo interdisciplinar entre Pedagogia, Neurociência, Psicologia Cognitiva, Sociologia da Educação, dentre outras, é um campo do conhecimento que vêm se consolidando desde 1990 e revelam que aprendemos melhor em redes: aprendemos mais quando tecemos mais redes, tanto as redes neurais que ampliam e potencializam as memórias de longo prazo dentro do nosso cérebro, quanto as redes de significados que vamos aprendendo a tecer coletivamente no aprendizado social e interativo das salas de aula.
Aprender em profundidade implica interagir e se relacionar ativamente tanto com o conteúdo do conhecimento a ser construído, como com os demais estudantes, em uma comunidade de prática coletiva de elaboração de sentidos e significados (LAVE e WENGER, 1991). Nas palavras de José Valente,
“As metodologias ativas são entendidas como práticas pedagógicas alternativas ao ensino tradicional. Ao invés do ensino baseado na transmissão de informações, da instrução bancária, como criticou Paulo Freire (1970), na metodologia ativa o aluno assume uma postura mais participativa, na qual ele resolve problemas, desenvolve projetos e, com isso, cria oportunidades para a construção de conhecimento” VALENTE, 2018, p. 27).
Se na abordagem mais tradicional parte-se do ensino de um conceito, em que o professor demonstra uma explicação, interpretação ou instrução, e depois os alunos aplicam essa informação ou conhecimento em uma ação, nas metodologias ativas isso tende a ser ao contrário.
De início, situa-se um desafio, um propósito, um objetivo, uma questão mobilizadora que cria contexto para a ação.
Na ação, desafio, problema, investigação iniciados, há uma reflexão sobre a ação desenvolvida, que amplia a elaboração de sentidos, visibilizando um pensamento. E, assim, possibilitando a construção de uma compreensão pelos sujeitos que, ao final do processo, é conceituada e sistematizada em uma teoria.
Nesse caso, a conceituação vem ao final do processo e não no início (BACICH e MORAN, 2018; BACICH e HOLANDA, 2020).
As metodologias ativas – projetos, aula invertida, gamificação, círculos de leitura como o jigsaw ou círculo de leitura em quebra-cabeça – constituem alternativas pedagógicas que colocam o foco do processo de ensino na aprendizagem do aprendiz, envolvendo-o na colaboração, na descoberta, na investigação ou resolução de problemas.
Conexão entre as Metodologias Ativas e a Aprendizagem Visível
Na Ativa Educação propomos a experimentação das metodologias ativas por meio das discussões e práticas das Aprendizagens Visíveis.
Essa é uma abordagem pedagógica que busca tornar o processo de ensino e de aprendizagem mais transparente para professores e estudantes. Como tornar mais visível para ambos o que acontece de modo invisível dentro de cada estudante (o processo de aprender de cada um)?
Dessa forma, a reflexão não apenas sobre o conteúdo é favorecida, mas também sobre o próprio sentido do processo de aprendizagem.
As Aprendizagens Visíveis são aquelas que o aprendiz é capaz de perceber e compreender não apenas o que aprende, mas como e quando aprende.
Já as Metodologias Ativas buscam envolver o aprendiz de forma mais colaborativa no processo de ensino e de aprendizagem.
A conexão entre elas reside no fato de que, quando os estudantes têm acesso a aprendizagens visíveis, eles se tornam mais motivados e participativos nas aulas, uma vez que compreendem melhor os conteúdos e as metodologias didáticas e avaliativas escolhidas pelo professor.
Dessa maneira, as metodologias ativas apoiam aprendizagens mais significativas e mais eficazes, pois os alunos estão engajados e interessados em seu próprio aprendizado e em ganhar e manejar estratégias para aprender a aprender, continuamente.
A abordagem ativa na aprendizagem: o verdadeiro potencial
Podemos afirmar que trabalhar com metodologias ativas não tem relação com a modalidade presencial ou remota, síncrona (forma simultânea e rápida) ou assíncrona (forma mais lenta, em que cada um faz no seu tempo).
Essas variações caracterizam o Ensino Híbrido, definido justamente por mesclar e combinar essas modalidades de tempo, espaço e uso da tecnologia no estudo.
O verdadeiro foco ativo das metodologias na aprendizagem, portanto, depende de como o professor conduz a atividade.
Ao contrário da metodologia de ensino híbrido, as metodologias ativas são definidas por estimular uma relação ativa dos estudantes entre si e com a construção do conhecimento.
Por isso afirmamos que são as metodologias que permitem ao professor ter foco não na transmissão do conteúdo, mas na construção da aprendizagem por parte dos estudantes.
São aquelas metodologias, portanto, que ajudam a:
- engajar;
- investigar;
- participar;
- colaborar;
- estudar ativamente;
- diversas estratégias e dinâmicas de trabalhos em grupo podem disparar o estudo ou aprofundá-lo, após uma experiência de estudo individual, como a sala de aula invertida, como:
- Discussão rápida ou flash discussion
- Rotação por estações de estudo;
- Dinâmica de debate e co-criação em World Cafe;
- Jigsaw ou círculos de leitura em “quebra cabeça”;
- Projetos investigativos;
- Aprendizagem baseada em desafios de criatividade ou colaboração;
- Co-criação por meio de design thinking ou desenho de ideias.
Essas metodologias listadas acima permitem que os educadores possam acompanhem o progresso dos estudantes e intervir rapidamente quando necessário, garantindo assim que todos atinjam seu potencial máximo.
Contudo, quando o professor destaca somente atividades de estratégias menos ativas, o estudante ou já gosta e tem muita facilidade em relação àquele conteúdo ou tende a se sentir desinteressado. Em consequência, tende a adotar um enfoque superficial, dificultando a construção de memórias de longa duração e a realização de ligações entre seu conhecimento e sua vida.
Nessa situação, sua inclinação é adquirir conhecimentos que sejam relevantes somente para curto e médio prazo, repassando informações de modo mecânico para se adequar à demanda externa do professor, normalmente balizada pelas avaliações somativas.
Após passar por testes e exames, o aluno se esquece de todas as informações estudadas, exatamente porque foram absorvidas superficialmente.

Existem muitas maneiras de desenvolver uma aprendizagem ativa na sala de aula, conforme pode-se observar na compilação realizada no estudo de Currículo na Educação Integral da imagem acima. Note-se que o estudo teórico pode ser sim muito ativo e profundo, desde que o estudante esteja motivado e tenha ferramentas para aprofundar sua compreensão. Porém, quando mais o estudante for convidado a compreender a relevância do seu próprio estudo, ampliar seu repertório de uma maneira dinâmica, documentada e visível, partilhar suas ideias, co-criar e a apresentá-las em grupo, mais tende a ampliar suas redes de significados em relação ao estudo e a criar, portanto, memórias de mais longa duração com aquele aprendizado, levando-o para a vida.
Podemos, assim, afirmar alguns consensos que, nas diferentes correntes pedagógicas, favorecem uma concepção de ensino mais ativo para uma aprendizagem mais profunda:
- Encorajar os alunos a fazer perguntas: incentive seus alunos a levantarem suas mãos e fazer perguntas durante as aulas.
Não perguntas protocolares e prontas, mas dúvidas e pensamentos autênticos. Quanto mais perguntarem, mais envolvidos estarão no processo de aprendizagem e mais ganchos para aprofundamento você pode desenvolver na sua sequência didática ou projeto. - Estimular a discussão entre os alunos: discutir ideias e conceitos com os colegas é uma ótima maneira de solidificar o entendimento e ampliar a compreensão.
Partilhas de sentidos, reescritas, transposições de conceitos a linguagens gráficas e visuais estimulam a criatividade, a colaboração e o raciocínio crítico e analítico.
Promova discussões para que todos os alunos estejam envolvidos e trabalhando juntos. - Promover atividades em grupo: trabalhar em grupo é um aprendizado longo e profundo, por onde desenvolvemos colaboração, comunicação e escuta ativa. É uma ótima maneira de estimular a discussão e o debate entre os alunos.
Forme grupos heterogêneos, com diferentes perfis de estudantes e promova roteiros claros para as atividades, tendo consciência de que são elas que mais podem ajudar os alunos a desenvolverem habilidades sociais e emocionais importantes como a divisão de papéis, a responsabilidade pelo coletivo no registro e na realização do trabalho, a escuta ativa, o exercício de turnos de fala, e empatia e portanto, todas as formas de colaboração e comunicação.
Aprendendo através de interesses e investigações: uma abordagem envolvente para construir um conhecimento poderoso no século XXI
Como então desenvolver uma abordagem mais envolvente e ativa para construir o conhecimento a partir de dúvidas, interesses, investigações e descobertas, que oferece um ambiente de processamento cognitivo, emocional e social para que os estudantes desenvolvam seus estudos de acordo com um contexto significativo para eles?
A resposta é clara, será com base nas evidências dos estudos das chamadas Ciências da Aprendizagem, que podemos sintetizar os seguintes princípios:
- Consideração dos conflitos (cognitivos e sociais) como elemento mobilizador da aprendizagem.
- Estabelecimento de relações intencionais e formalizadas (registradas) entre conhecimentos prévios e experiências atuais.
- Criação de desafios ambiciosos e significativos que reflitam como o conhecimento é construído no seu campo social e que criem pertinência, sentido e contexto para o uso da linguagem acadêmica e científica nas situações de estudo.
- Construção de problemas para estudo e investigação em sala de aula, a partir do que se observa no território (contexto, condições, saberes locais se tornam objeto de conhecimentos acadêmicos. Ou seja, no estudo, ocorre a elaboração conceitual, formal, intencional e sistemática dos temas, fenômenos e processos vividos no cotidiano).
- Construção de situações de experimentação em que os estudantes sejam convidados a criar, colaborar, elaborar, testar, avaliar, registrar e comunicar suas hipóteses.
- Ênfase no desenvolvimento de um pensamento estratégico, autoconsciente, nas diferentes situações de estudo (autoconhecimento e metacognição).
- Prática de documentação processual e contínua para valorização da reflexão e tomada de consciência sobre o erro, a revisão de hipóteses de ensino-aprendizagem, para tornar mais autônoma (autorregulada) e mais visível a aprendizagem dos estudantes e para os próprios estudantes. Princípios para a aprendizagem profunda, ativa e significativa.
- Atenção à diversidade, aos diferentes tipos de agrupamentos e aos potenciais dos diferentes estudantes e de suas formas de aprender.
- Compreensão de que a motivação dos estudantes também se relaciona ao quanto se sentem pertencentes; quanto as propostas de estudo e de trabalho são construídas com base naquilo que os estudantes têm capacidade de fazer e têm a disposição para fazer, pois percebem ou são sensibilizados sobre sua relevância.
- Compreensão de que os arranjos espaciais do ambiente educativo e o tempo das atividades didático-pedagógicas condicionam fortemente a qualidade e os tipos de aprendizagem.
Ao longo desse artigo, vimos que as metodologias ativas podem auxiliar os estudantes a construírem um conhecimento mais significativo.
Isso ocorre porque essas metodologias têm o potencial de trazer diversos benefícios para os estudantes, como o desenvolvimento da autonomia, da colaboração e da criatividade.
Mas é importante destacar que não existe uma fórmula mágica. Porém, existem princípios e práticas ativas de ensino que podem ajudar a construir um ambiente de aprendizagem mais significativo para todos.
Ao refletir sobre o tema, é possível perceber que as metodologias ativas têm como objetivo desenvolver uma melhor aprendizagem para os estudantes.
Nesse sentido, a perspectiva da aprendizagem visível vem intensificar os processos do aprendiz – estudante ou professor – de pensar coletivamente, reconhecer seu próprio pensamento, ganhar autonomia e construir conhecimento de forma significativa.
Por isso, se você se interessou pelo tema e quer saber mais, confira lives e palestras sobre o tema no canal no Youtube da Ativa Educação.
Referências Bibliográficas
ANDRADE, J.(org.) Aprendizagens Visíveis: experiências teórico-práticas em sala de aula. 1a. Ed. São Paulo: Panda Educação. 2021.
ANDRADE, J.; COSTA, N.; WEFFORT, H. Currículo na Educação Integral: uma referência para estados e municípios. São Paulo: Centro de Referências em Educação Integral/British Council, 2019. Disponível em: <https://educacaointegral.org.br/curriculo-na-educacao-integral/materiais/caderno-1-curriculo-e-ei-na-pratica/>. Último acesso em 10/01/2023.
BACICH, Lilian; HOLANDA, Leandro. STEAM em sala de aula: a aprendizagem baseada em projetos integrando conhecimentos na educação básica. Penso Editora, 2020.
BACICH, Lilian e MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora. Porto Alegre: Penso, 2018.
BENDER, Willian N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Penso Editora, 2015.
CIEB, Nota Técnica #18. “Ensino Híbrido e o uso das tecnologias digitais na educação básica”. São Paulo: CIEB, 2021. Disponível em<https://cieb.net.br/wp-content/uploads/2021/02/Nota-tecnica-18_Ensino-hibrido.pd>. Último acesso em 10/01/2023.
Especial Porvir: Aprendizagem Baseada em Projetos. Disponível em: <http://porvir.org/aprendizagem-baseada-em-projetos/>. Acesso em 20 de fevereiro de 2018.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Fac símile digitalizado (Manuscritos). São Paulo: Instituto Paulo Freire, 1968.
LAVE, J.; WENGER, E. Situated Learning: Legitimal Peripheral Participation. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1991.
VALENTE, J. “A Sala de Aula invertida e a possibilidade do ensino personalizado: uma experiência com a graduação em midiologia”. In: BACICH, Lilian e MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora. Porto Alegre: Penso, 2018.
Por que as metodologias ativas estão em destaque? O que elas revelam sobre a falência do modo tradicional de ensino escolar que se concentra em aulas expositivas, baseadas na transmissão de conteúdo do professor para os estudantes? O que essa discussão tem a ver com a necessidade de tornar a aprendizagem mais visível e significativa em sala de aula? Essas são as perguntas recorrentes quando somos chamados a realizar a formação de professores sobre esse tema e servem de base para adentrarmos na temática deste artigo, as metodologias ativas.
O termo Metodologia Ativa é mais comum no debate didático-pedagógico no Brasil. Já no debate internacional correlato, fala-se mais em como promover pedagogias ativas, estimular aprendizagem profunda, desenvolver a aprendizagem para a compreensão, como propósito contrário ao ensino que Paulo Freire (1968) já chamava de modelo bancário: o ensino em que o professor “depositava” conteúdos em aulas para conferir a aprendizagem como “extrato” de memorização e reprodução de informações.
Nos debates envolvendo o termo “metodologia ativa” o foco é sobre como desenvolver estratégias de ensino em que os estudantes tenham um papel mais ativos, com maior participação (tempo de voz e maior ação) na dinâmica da aula e ganhem mais consciência sobre seu próprio processo de aprendizagem, normalmente envolvendo habilidades mais significativas do que lembrar, evocar, reproduzir. Ou seja, ao invés de simplesmente ouvir o professor e tomar notas a maior parte do tempo, quando as aulas se valem de metodologias ativasos estudantes são estimulados a participar ativamente: a fazer perguntas, a investigar uma questão, a manipular e selecionar diferentes estratégias e suportes tecnológicos em pesquisas ou criação de textos e apresentações, a discutir temas instigantes com os colegas e a aprender como desenvolver diferentes formas de trabalho em grupo. Ou seja, métodos ativos são aqueles que favorecem colocar a aprendizagem do estudante no centro do processo pedagógico. Quando isso ocorre, as aulas permitem que o estudante aprenda não apenas conteúdos. o “o que” estão aprendendo, mas também a refletir sobre como estão aprendendo. os processos de definir uma questão, explorar, experimentar, registrar, revisar e construir conhecimento (coletivo e próprio), geralmente em processos de ampliação de repertório conceitual e de colaboração em grupos.
Aprendizagem em Rede
Gosto de abordar a discussão sobre metodologias ativas citando meu querido Professor José Moran, que escreveu o prefácio do nosso livro Aprendizagem Visíveis: experiências teórico-práticas em sala de aula (ANDRADE, 2021).
Segundo Moran,
“Metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes para a construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida” (MORAN, 2018, p.4).
Metodologias ativas podem se valer ou não de tecnologias digitais, mas sempre devem buscar propiciar:
1) múltiplos modos de interação do aprendiz com os conteúdos de aprendizagem;
2) múltiplos modos de interação entre os estudantes e;
3) múltiplos modos de interação do estudante com o professor.
Há espaço para aula expositiva do professor e para a instrução direta, mas esse não pode ser o único e predominante modo de instruir, explicar e conduzir a aula. A ideia é que os estudantes ganhem repertório em práticas que estimulam competências e habilidades mais profundas: registrar conhecimentos prévios e comparar o que se sabia e o que se aprendeu após uma leitura ou debate conceitual; compreender e seguir um roteiros de pesquisa, envolvendo responder a “quizzes” dinâmicos que tragam feedback para aprofundar a aprendizagem e desenvolver diferentes modos de colaboração e trabalho em grupo; aprender a escutar ativamente e a falar com base em argumentos, aprender a dividir papéis, a se autoavaliar e a dar devolutivas pedagógicas são exemplos de práticas bem elaboradas que trazem outro nível de profundidade ao ensino a aprendizagem em qualquer segmento educacional.
Ou seja, quando se trata de métodos mais ativos de ensinar e de aprender, professores e estudantes se deslocam de seus papéis tradicionais (o professor expor e o aluno anotar) e diversificam novas posições para que, no processo de aprendizagem, o estudante se relacione com a construção do seu próprio conhecimento de modo mais ativo, consciente, consistente e profundo.
Pesquisas das Ciências da Aprendizagem, um campo interdisciplinar entre Pedagogia, Neurociência, Psicologia Cognitiva, Sociologia da Educação, dentre outras, é um campo do conhecimento que vêm se consolidando desde 1990 e revelam que aprendemos melhor em redes: aprendemos mais quando tecemos mais redes, tanto as redes neurais que ampliam e potencializam as memórias de longo prazo dentro do nosso cérebro, quanto as redes de significados que vamos aprendendo a tecer coletivamente no aprendizado social e interativo das salas de aula.
Aprender em profundidade implica interagir e se relacionar ativamente tanto com o conteúdo do conhecimento a ser construído, como com os demais estudantes, em uma comunidade de prática coletiva de elaboração de sentidos e significados (LAVE e WENGER, 1991). Nas palavras de José Valente,
“As metodologias ativas são entendidas como práticas pedagógicas alternativas ao ensino tradicional. Ao invés do ensino baseado na transmissão de informações, da instrução bancária, como criticou Paulo Freire (1970), na metodologia ativa o aluno assume uma postura mais participativa, na qual ele resolve problemas, desenvolve projetos e, com isso, cria oportunidades para a construção de conhecimento” VALENTE, 2018, p. 27).
Se na abordagem mais tradicional parte-se do ensino de um conceito, em que o professor demonstra uma explicação, interpretação ou instrução, e depois os alunos aplicam essa informação ou conhecimento em uma ação, nas metodologias ativas isso tende a ser ao contrário.
De início, situa-se um desafio, um propósito, um objetivo, uma questão mobilizadora que cria contexto para a ação.
Na ação, desafio, problema, investigação iniciados, há uma reflexão sobre a ação desenvolvida, que amplia a elaboração de sentidos, visibilizando um pensamento. E, assim, possibilitando a construção de uma compreensão pelos sujeitos que, ao final do processo, é conceituada e sistematizada em uma teoria.
Nesse caso, a conceituação vem ao final do processo e não no início (BACICH e MORAN, 2018; BACICH e HOLANDA, 2020).
As metodologias ativas – projetos, aula invertida, gamificação, círculos de leitura como o jigsaw ou círculo de leitura em quebra-cabeça – constituem alternativas pedagógicas que colocam o foco do processo de ensino na aprendizagem do aprendiz, envolvendo-o na colaboração, na descoberta, na investigação ou resolução de problemas.
Conexão entre as Metodologias Ativas e a Aprendizagem Visível
Na Ativa Educação propomos a experimentação das metodologias ativas por meio das discussões e práticas das Aprendizagens Visíveis.
Essa é uma abordagem pedagógica que busca tornar o processo de ensino e de aprendizagem mais transparente para professores e estudantes. Como tornar mais visível para ambos o que acontece de modo invisível dentro de cada estudante (o processo de aprender de cada um)?
Dessa forma, a reflexão não apenas sobre o conteúdo é favorecida, mas também sobre o próprio sentido do processo de aprendizagem.
As Aprendizagens Visíveis são aquelas que o aprendiz é capaz de perceber e compreender não apenas o que aprende, mas como e quando aprende.
Já as Metodologias Ativas buscam envolver o aprendiz de forma mais colaborativa no processo de ensino e de aprendizagem.
A conexão entre elas reside no fato de que, quando os estudantes têm acesso a aprendizagens visíveis, eles se tornam mais motivados e participativos nas aulas, uma vez que compreendem melhor os conteúdos e as metodologias didáticas e avaliativas escolhidas pelo professor.
Dessa maneira, as metodologias ativas apoiam aprendizagens mais significativas e mais eficazes, pois os alunos estão engajados e interessados em seu próprio aprendizado e em ganhar e manejar estratégias para aprender a aprender, continuamente.
A abordagem ativa na aprendizagem: o verdadeiro potencial
Podemos afirmar que trabalhar com metodologias ativas não tem relação com a modalidade presencial ou remota, síncrona (forma simultânea e rápida) ou assíncrona (forma mais lenta, em que cada um faz no seu tempo).
Essas variações caracterizam o Ensino Híbrido, definido justamente por mesclar e combinar essas modalidades de tempo, espaço e uso da tecnologia no estudo.
O verdadeiro foco ativo das metodologias na aprendizagem, portanto, depende de como o professor conduz a atividade.
Ao contrário da metodologia de ensino híbrido, as metodologias ativas são definidas por estimular uma relação ativa dos estudantes entre si e com a construção do conhecimento.
Por isso afirmamos que são as metodologias que permitem ao professor ter foco não na transmissão do conteúdo, mas na construção da aprendizagem por parte dos estudantes.
São aquelas metodologias, portanto, que ajudam a:
- engajar;
- investigar;
- participar;
- colaborar;
- estudar ativamente;
- diversas estratégias e dinâmicas de trabalhos em grupo podem disparar o estudo ou aprofundá-lo, após uma experiência de estudo individual, como a sala de aula invertida, como:
- Discussão rápida ou flash discussion
- Rotação por estações de estudo;
- Dinâmica de debate e co-criação em World Cafe;
- Jigsaw ou círculos de leitura em “quebra cabeça”;
- Projetos investigativos;
- Aprendizagem baseada em desafios de criatividade ou colaboração;
- Co-criação por meio de design thinking ou desenho de ideias.
Essas metodologias listadas acima permitem que os educadores possam acompanhem o progresso dos estudantes e intervir rapidamente quando necessário, garantindo assim que todos atinjam seu potencial máximo.
Contudo, quando o professor destaca somente atividades de estratégias menos ativas, o estudante ou já gosta e tem muita facilidade em relação àquele conteúdo ou tende a se sentir desinteressado. Em consequência, tende a adotar um enfoque superficial, dificultando a construção de memórias de longa duração e a realização de ligações entre seu conhecimento e sua vida.
Nessa situação, sua inclinação é adquirir conhecimentos que sejam relevantes somente para curto e médio prazo, repassando informações de modo mecânico para se adequar à demanda externa do professor, normalmente balizada pelas avaliações somativas.
Após passar por testes e exames, o aluno se esquece de todas as informações estudadas, exatamente porque foram absorvidas superficialmente.

Existem muitas maneiras de desenvolver uma aprendizagem ativa na sala de aula, conforme pode-se observar na compilação realizada no estudo de Currículo na Educação Integral da imagem acima. Note-se que o estudo teórico pode ser sim muito ativo e profundo, desde que o estudante esteja motivado e tenha ferramentas para aprofundar sua compreensão. Porém, quando mais o estudante for convidado a compreender a relevância do seu próprio estudo, ampliar seu repertório de uma maneira dinâmica, documentada e visível, partilhar suas ideias, co-criar e a apresentá-las em grupo, mais tende a ampliar suas redes de significados em relação ao estudo e a criar, portanto, memórias de mais longa duração com aquele aprendizado, levando-o para a vida.
Podemos, assim, afirmar alguns consensos que, nas diferentes correntes pedagógicas, favorecem uma concepção de ensino mais ativo para uma aprendizagem mais profunda:
- Encorajar os alunos a fazer perguntas: incentive seus alunos a levantarem suas mãos e fazer perguntas durante as aulas.
Não perguntas protocolares e prontas, mas dúvidas e pensamentos autênticos. Quanto mais perguntarem, mais envolvidos estarão no processo de aprendizagem e mais ganchos para aprofundamento você pode desenvolver na sua sequência didática ou projeto. - Estimular a discussão entre os alunos: discutir ideias e conceitos com os colegas é uma ótima maneira de solidificar o entendimento e ampliar a compreensão.
Partilhas de sentidos, reescritas, transposições de conceitos a linguagens gráficas e visuais estimulam a criatividade, a colaboração e o raciocínio crítico e analítico.
Promova discussões para que todos os alunos estejam envolvidos e trabalhando juntos. - Promover atividades em grupo: trabalhar em grupo é um aprendizado longo e profundo, por onde desenvolvemos colaboração, comunicação e escuta ativa. É uma ótima maneira de estimular a discussão e o debate entre os alunos.
Forme grupos heterogêneos, com diferentes perfis de estudantes e promova roteiros claros para as atividades, tendo consciência de que são elas que mais podem ajudar os alunos a desenvolverem habilidades sociais e emocionais importantes como a divisão de papéis, a responsabilidade pelo coletivo no registro e na realização do trabalho, a escuta ativa, o exercício de turnos de fala, e empatia e portanto, todas as formas de colaboração e comunicação.
Aprendendo através de interesses e investigações: uma abordagem envolvente para construir um conhecimento poderoso no século XXI
Como então desenvolver uma abordagem mais envolvente e ativa para construir o conhecimento a partir de dúvidas, interesses, investigações e descobertas, que oferece um ambiente de processamento cognitivo, emocional e social para que os estudantes desenvolvam seus estudos de acordo com um contexto significativo para eles?
A resposta é clara, será com base nas evidências dos estudos das chamadas Ciências da Aprendizagem, que podemos sintetizar os seguintes princípios:
- Consideração dos conflitos (cognitivos e sociais) como elemento mobilizador da aprendizagem.
- Estabelecimento de relações intencionais e formalizadas (registradas) entre conhecimentos prévios e experiências atuais.
- Criação de desafios ambiciosos e significativos que reflitam como o conhecimento é construído no seu campo social e que criem pertinência, sentido e contexto para o uso da linguagem acadêmica e científica nas situações de estudo.
- Construção de problemas para estudo e investigação em sala de aula, a partir do que se observa no território (contexto, condições, saberes locais se tornam objeto de conhecimentos acadêmicos. Ou seja, no estudo, ocorre a elaboração conceitual, formal, intencional e sistemática dos temas, fenômenos e processos vividos no cotidiano).
- Construção de situações de experimentação em que os estudantes sejam convidados a criar, colaborar, elaborar, testar, avaliar, registrar e comunicar suas hipóteses.
- Ênfase no desenvolvimento de um pensamento estratégico, autoconsciente, nas diferentes situações de estudo (autoconhecimento e metacognição).
- Prática de documentação processual e contínua para valorização da reflexão e tomada de consciência sobre o erro, a revisão de hipóteses de ensino-aprendizagem, para tornar mais autônoma (autorregulada) e mais visível a aprendizagem dos estudantes e para os próprios estudantes. Princípios para a aprendizagem profunda, ativa e significativa.
- Atenção à diversidade, aos diferentes tipos de agrupamentos e aos potenciais dos diferentes estudantes e de suas formas de aprender.
- Compreensão de que a motivação dos estudantes também se relaciona ao quanto se sentem pertencentes; quanto as propostas de estudo e de trabalho são construídas com base naquilo que os estudantes têm capacidade de fazer e têm a disposição para fazer, pois percebem ou são sensibilizados sobre sua relevância.
- Compreensão de que os arranjos espaciais do ambiente educativo e o tempo das atividades didático-pedagógicas condicionam fortemente a qualidade e os tipos de aprendizagem.
Ao longo desse artigo, vimos que as metodologias ativas podem auxiliar os estudantes a construírem um conhecimento mais significativo.
Isso ocorre porque essas metodologias têm o potencial de trazer diversos benefícios para os estudantes, como o desenvolvimento da autonomia, da colaboração e da criatividade.
Mas é importante destacar que não existe uma fórmula mágica. Porém, existem princípios e práticas ativas de ensino que podem ajudar a construir um ambiente de aprendizagem mais significativo para todos.
Ao refletir sobre o tema, é possível perceber que as metodologias ativas têm como objetivo desenvolver uma melhor aprendizagem para os estudantes.
Nesse sentido, a perspectiva da aprendizagem visível vem intensificar os processos do aprendiz – estudante ou professor – de pensar coletivamente, reconhecer seu próprio pensamento, ganhar autonomia e construir conhecimento de forma significativa.
Por isso, se você se interessou pelo tema e quer saber mais, confira lives e palestras sobre o tema no canal no Youtube da Ativa Educação.
Referências Bibliográficas
ANDRADE, J.(org.) Aprendizagens Visíveis: experiências teórico-práticas em sala de aula. 1a. Ed. São Paulo: Panda Educação. 2021.
ANDRADE, J.; COSTA, N.; WEFFORT, H. Currículo na Educação Integral: uma referência para estados e municípios. São Paulo: Centro de Referências em Educação Integral/British Council, 2019. Disponível em: <https://educacaointegral.org.br/curriculo-na-educacao-integral/materiais/caderno-1-curriculo-e-ei-na-pratica/>. Último acesso em 10/01/2023.
BACICH, Lilian; HOLANDA, Leandro. STEAM em sala de aula: a aprendizagem baseada em projetos integrando conhecimentos na educação básica. Penso Editora, 2020.
BACICH, Lilian e MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora. Porto Alegre: Penso, 2018.
BENDER, Willian N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Penso Editora, 2015.
CIEB, Nota Técnica #18. “Ensino Híbrido e o uso das tecnologias digitais na educação básica”. São Paulo: CIEB, 2021. Disponível em<https://cieb.net.br/wp-content/uploads/2021/02/Nota-tecnica-18_Ensino-hibrido.pd>. Último acesso em 10/01/2023.
Especial Porvir: Aprendizagem Baseada em Projetos. Disponível em: <http://porvir.org/aprendizagem-baseada-em-projetos/>. Acesso em 20 de fevereiro de 2018.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Fac símile digitalizado (Manuscritos). São Paulo: Instituto Paulo Freire, 1968.
LAVE, J.; WENGER, E. Situated Learning: Legitimal Peripheral Participation. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1991.
VALENTE, J. “A Sala de Aula invertida e a possibilidade do ensino personalizado: uma experiência com a graduação em midiologia”. In: BACICH, Lilian e MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora. Porto Alegre: Penso, 2018.