A força do Cabo de Guerra para gerar reflexão sobre a importância do uso dos adjetivos nas Produções de Texto e expressão de ideias e opiniões

Diante da necessidade de ajudar os estudantes do 2º ano a ampliarem suas histórias e textos nas aulas de Língua Portuguesa, para uma Produção Textual mais detalhada e sofisticada, decidi desenvolver um projeto que contasse com estratégias ativas e inspiradoras para ajudá-los a alcançar esse objetivo. 

Previsto na BNCC, os adjetivos são habilidades que dão visão aos substantivos e ajudam os estudantes na ampliação de suas produções, tornando-as mais atraentes, com vocabulário mais rebuscado e contribuindo para expressarem melhor suas opiniões, fatos, acontecimentos e caracterização de personagens. 

Como não poderia ser diferente, as Rotinas de Pensamento, estiveram presentes em nossas aulas e foram os recursos utilizados para desenvolver as habilidades planejadas de acordo com cada objetivo, pois por meio delas, os estudantes elaboram sentido e significado sobre o que estão aprendendo.

A primeira etapa foi compartilhar com os estudantes, o meu objetivo pessoal (Smart Goal, como chamamos na escola) para o ano letivo, que seria ajudá-los a aumentar a escrita de suas histórias. Para isso, eu propus que eles apontassem as estratégias que eles julgavam necessárias para que eu pudesse ajudá-los a atingir um melhor desempenho em suas produções de texto. Sem citar os adjetivos, deixei que eles chegassem a alguma conclusão e construíssem uma lista coletiva de ideias.

Em pequenos grupos, os estudantes discutiram sobre o que eles achavam importante ou necessário para que eles conseguissem ampliar suas escritas. Após o tempo proposto para a discussão, cada grupo, tendo como representante, um repórter, expôs suas ideias. A partir daí, a lista coletiva foi construída.

A seguir, relato o que foi discutido:

  1. Montar um mural na sala de aula com ideias de temas para a escrita
  2. Montar um banco de palavras, com palavras menos comuns
  3. Ler mais histórias 
  4. Mostrar com mais frequência, vídeos de histórias para facilitar a visualização dos detalhes de cada personagem
  5. Fazer listas de possíveis cenários
  6. Escritas de histórias na lousa pela professora, como modelo
  7. Aprender mais palavras que explicam as coisas como elas são

 

A lista era tudo o que nós precisávamos para dar início a uma sequência de atividades que contaria com diversos recursos das Metodologias Ativas, como: Rotinas de Pensamento, Jogos Analógicos e Digitais, Rotação por Estação, Storytelling e a construção de um Caderno de Adjetivos como apoio de referência de escrita.

O projeto teve início em Agosto de 2022 bem próximo aos jogos da  Copa do Mundo, que inclusive impulsionaram os trabalhos acerca do uso dos adjetivos, pela utilização das Rotinas, Vejo/Penso/Pergunto, Antes eu sabia…Agora eu sei, Chalk Talk e Cor/Símbolo/Imagem, de forma interdisciplinar.

No entanto, pretendo destacar neste artigo, uma Rotina de Pensamento em especial, o Cabo de Guerra (Tug of War).  Apesar de não ter sido a primeira estratégia utilizada, foi a que mais favoreceu e ampliou o pensamento dos estudantes para o destaque que o emprego de adjetivos assumem de acordo com a intencionalidade do texto e os efeitos de sentido que atribuem a ele, bem como para a relevância dos assuntos explícitos e implícitos na história apresentada.

O Cabo de Guerra, como o próprio nome sugere, visa um confronto de opiniões onde lados opostos argumentam pontos de vista. O dilema, normalmente de justiça é apresentado, os fatos são levantados, os alunos demonstram empatia por um ou outro personagem, defendem a causa de um ou outro lado da história e então iniciam suas argumentações.

Realizei a leitura da história, A árvore generosa,  livro paradidático que desperta a atenção das crianças e que normalmente divide bem a opinião entre elas. Logo após a leitura, deixei que os estudantes apresentassem e discutissem o dilema. Nesse momento notei o quanto eles prezam pela validação dos adultos, a fim de apoiarem e sustentarem suas próprias opiniões.

Contudo, antes que eles soubessem o que aconteceria a seguir,  expliquei que eles participariam de uma nova Rotina de Pensamento, termo já conhecido por eles, porém sem revelar qual seria. Caberia a eles descobrir como esse trabalho seria feito.

Como as Rotinas de Pensamento já faziam parte do dia a dia dos estudantes na escola, escolhi a Rotina, “Pensar com Imagem”, para apresentar uma pista que os levasse à conclusão do trabalho que realizaríamos juntos. A partir da análise da imagem abaixo, os alunos levantaram hipóteses.

Sugeri que eles observassem atentamente a imagem e pensassem em como ela se relacionava à história e ao trabalho que sucederia a resolução do dilema levantado por eles, após a leitura.

Todos chegaram à conclusão de que a imagem representava uma brincadeira, mas que essa brincadeira tinha como objetivo provar qual dos lados era o mais forte.

 A pergunta geradora a partir da análise da imagem foi: Como podemos utilizar o Cabo de Guerra para solucionar o dilema que a história apresenta? E o que faremos a partir de agora?

As respostas foram variadas, mas em síntese, os estudantes apresentaram uma proposta razoável:

 “Cada grupo defenderá um lado, os que acreditam que o menino não era mau e dava atenção à árvore irão defendê-lo e os que acreditam que a árvore era uma vítima desprezada pelo menino, irão protegê-la e acusar ao menino”. O detalhe é que todos poderiam mudar de opinião e de lado, caso desejassem.

Realizamos a Rotina como um jogo de argumentação e convencimento, onde os estudantes usaram os adjetivos para definir os personagens, os fatos e acontecimentos que apoiaram as suas ideias .

Em grupos, os alunos escolheram o escriba, o controlador do tempo, o repórter e o organizador. Escreveram em forma de lista, as virtudes do personagem escolhido e levantaram fatos que apoiavam suas defesas e acusações.

Após o término do tempo proposto, dividimos a sala de aula com uma linha que faria a separação física dos lados opostos. Os alunos se sentaram de frente uns para os outros e começaram a relatar as conversas e anotações feitas em grupo. Foi muito interessante notar, que alguns se sentiam convencidos pelos argumentos do lado oposto e pediam para mudar de lado. Outros, por sua vez, decidiram criar uma terceira posição, o lugar dos indecisos ou dos que acreditavam que os dois personagens tinham pontes fortes e fracos.

Compartilho os depoimentos que levaram os alunos, posteriormente, a identificação dos variados grupos de adjetivos em suas próprias falas:

“A árvore era muito gentil e preocupada”.

“O menino não era muito educado”. 

“O menino era ingrato e egoísta, pois se importou pouco com a árvore”.

“Se o menino tivesse levado seus filhos e netos para brincar na árvore, ela teria ficado feliz a vida inteira e ele não teria permitido que ela desse as partes do seu corpo”.

“O menino era injusto e queria tudo para ele”.

“A árvore era generosa e inocente demais e o menino muito exigente”.

Por fim, os alunos estabeleceram uma boa relação entre a história e suas experiências pessoais, demonstrando a visão que eles têm das relações humanas. Entenderam o poder das palavras para descrever um sentimento, uma intenção, virtudes, defeitos e características.

A Rotina do Cabo de Guerra foi concluída com o uso de Post it, onde cada aluno escreveu as palavras que gostaria de lembrar e anexaram ao pôster da sala de aula para serem usados como referência de escrita.

Outra atividade proposta, foi o registro em uma das páginas do Caderno de Adjetivos, onde os alunos individualmente registraram as principais virtudes e características de cada personagem de acordo com suas opiniões. Após esta etapa, os alunos estavam prontos para reescrever a história no caderno “Formando Escritores”.

Para os alunos com dificuldades de leitura, escrita, foco e atenção, foi oferecido a atividade de  diferenciação, que evidenciou o aprendizado por meio de desenhos e escrita.

Após quase um semestre de trabalho consistente e significativo, todos os resultados obtidos durante o processo, foram observados e avaliados para que pudéssemos evidenciar o aprendizado dos alunos. Para isso, uma rubrica de avaliação nos ajudou a mensurar o quanto os estudantes haviam se apropriado do uso dos adjetivos e incorporado essa estrutura em suas escritas.

Espero que a experiência compartilhada possa contribuir para uma rede de educadores interessados em inovação para uma educação do século XXI, onde os estudantes aprendem de forma ativa e participativa. Com estratégias simples, mas poderosas, podemos  visualizar e entender os processos dos pensamentos e a construção do conhecimento.

Paula Castro

2 respostas

  1. Que relato lindo Paula! Adorei! Parabéns!!! Que potente as discussões, perguntas, desenhos e comentários dos alunos durante o cabo de guerra sobre o livro “A Árvore Generosa”! Fiquei com uma dúvida: NO que foi a rubrica OET? Como foi construída e como foi usada em aula? (Julia escrevendo como Ativa!)

    1. Obrigada Júlia, divido os créditos com você! A rubrica foi construída para apoiar a observação de todo o processo. A avaliação formativa permitiu que cada atividade realizada fosse olhada de perto, não com o objetivo de quantificar os resultados ou categorizar os alunos em níveis. Eu usei a rubrica para verificar o quanto os alunos estavam se apropriando dos conceitos dos adjetivos, com relação a função que eles exercem no texto, e se os estudantes estavam ou não se tornando independentes e seguros em usá-los. A rubrica apresentada aponta o “observador”, como aquele que sabe explicar o que são adjetivos, porém não conseguiu usá-los no texto sem ajuda do professor. O “envolvido”, fez associação entre o substantivo e o adjetivo, os usou nas produções de forma espontânea e as vezes com o apoio do professor. Por fim o “transformador”, demonstrou boa apropriação quando criou sentenças mais complexas preocupando-se com a função dos adjetivos dentro do texto, usando-os em alguns momentos de forma mais intuitiva e em outros recorrendo ao material de apoio criado para diversificar mais o vocabulário. Como o objetivo era apresentar o resultado do projeto por meio de evidências de aprendizagem, a apresentação de quatro produções de cada aluno e a rubrica para cada uma delas, nos permitiu visualizar em que momento do desenvolvimento dessa habilidade, cada aluno se encontra e a partir daí planejar novas estratégias para os que ainda não se apropriaram do conceito.

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