Diante da necessidade de ajudar os estudantes do 2º ano a ampliarem suas histórias e textos nas aulas de Língua Portuguesa, para uma Produção Textual mais detalhada e sofisticada, decidi desenvolver um projeto que contasse com estratégias ativas e inspiradoras para ajudá-los a alcançar esse objetivo.
Previsto na BNCC, os adjetivos são habilidades que dão visão aos substantivos e ajudam os estudantes na ampliação de suas produções, tornando-as mais atraentes, com vocabulário mais rebuscado e contribuindo para expressarem melhor suas opiniões, fatos, acontecimentos e caracterização de personagens.
Como não poderia ser diferente, as Rotinas de Pensamento, estiveram presentes em nossas aulas e foram os recursos utilizados para desenvolver as habilidades planejadas de acordo com cada objetivo, pois por meio delas, os estudantes elaboram sentido e significado sobre o que estão aprendendo.
A primeira etapa foi compartilhar com os estudantes, o meu objetivo pessoal (Smart Goal, como chamamos na escola) para o ano letivo, que seria ajudá-los a aumentar a escrita de suas histórias. Para isso, eu propus que eles apontassem as estratégias que eles julgavam necessárias para que eu pudesse ajudá-los a atingir um melhor desempenho em suas produções de texto. Sem citar os adjetivos, deixei que eles chegassem a alguma conclusão e construíssem uma lista coletiva de ideias.
Em pequenos grupos, os estudantes discutiram sobre o que eles achavam importante ou necessário para que eles conseguissem ampliar suas escritas. Após o tempo proposto para a discussão, cada grupo, tendo como representante, um repórter, expôs suas ideias. A partir daí, a lista coletiva foi construída.
A seguir, relato o que foi discutido:
- Montar um mural na sala de aula com ideias de temas para a escrita
- Montar um banco de palavras, com palavras menos comuns
- Ler mais histórias
- Mostrar com mais frequência, vídeos de histórias para facilitar a visualização dos detalhes de cada personagem
- Fazer listas de possíveis cenários
- Escritas de histórias na lousa pela professora, como modelo
- Aprender mais palavras que explicam as coisas como elas são
A lista era tudo o que nós precisávamos para dar início a uma sequência de atividades que contaria com diversos recursos das Metodologias Ativas, como: Rotinas de Pensamento, Jogos Analógicos e Digitais, Rotação por Estação, Storytelling e a construção de um Caderno de Adjetivos como apoio de referência de escrita.
O projeto teve início em Agosto de 2022 bem próximo aos jogos da Copa do Mundo, que inclusive impulsionaram os trabalhos acerca do uso dos adjetivos, pela utilização das Rotinas, Vejo/Penso/Pergunto, Antes eu sabia…Agora eu sei, Chalk Talk e Cor/Símbolo/Imagem, de forma interdisciplinar.
No entanto, pretendo destacar neste artigo, uma Rotina de Pensamento em especial, o Cabo de Guerra (Tug of War). Apesar de não ter sido a primeira estratégia utilizada, foi a que mais favoreceu e ampliou o pensamento dos estudantes para o destaque que o emprego de adjetivos assumem de acordo com a intencionalidade do texto e os efeitos de sentido que atribuem a ele, bem como para a relevância dos assuntos explícitos e implícitos na história apresentada.
O Cabo de Guerra, como o próprio nome sugere, visa um confronto de opiniões onde lados opostos argumentam pontos de vista. O dilema, normalmente de justiça é apresentado, os fatos são levantados, os alunos demonstram empatia por um ou outro personagem, defendem a causa de um ou outro lado da história e então iniciam suas argumentações.
Realizei a leitura da história, A árvore generosa, livro paradidático que desperta a atenção das crianças e que normalmente divide bem a opinião entre elas. Logo após a leitura, deixei que os estudantes apresentassem e discutissem o dilema. Nesse momento notei o quanto eles prezam pela validação dos adultos, a fim de apoiarem e sustentarem suas próprias opiniões.
Contudo, antes que eles soubessem o que aconteceria a seguir, expliquei que eles participariam de uma nova Rotina de Pensamento, termo já conhecido por eles, porém sem revelar qual seria. Caberia a eles descobrir como esse trabalho seria feito.
Como as Rotinas de Pensamento já faziam parte do dia a dia dos estudantes na escola, escolhi a Rotina, “Pensar com Imagem”, para apresentar uma pista que os levasse à conclusão do trabalho que realizaríamos juntos. A partir da análise da imagem abaixo, os alunos levantaram hipóteses.
Sugeri que eles observassem atentamente a imagem e pensassem em como ela se relacionava à história e ao trabalho que sucederia a resolução do dilema levantado por eles, após a leitura.
Todos chegaram à conclusão de que a imagem representava uma brincadeira, mas que essa brincadeira tinha como objetivo provar qual dos lados era o mais forte.
A pergunta geradora a partir da análise da imagem foi: Como podemos utilizar o Cabo de Guerra para solucionar o dilema que a história apresenta? E o que faremos a partir de agora?
As respostas foram variadas, mas em síntese, os estudantes apresentaram uma proposta razoável:
“Cada grupo defenderá um lado, os que acreditam que o menino não era mau e dava atenção à árvore irão defendê-lo e os que acreditam que a árvore era uma vítima desprezada pelo menino, irão protegê-la e acusar ao menino”. O detalhe é que todos poderiam mudar de opinião e de lado, caso desejassem.
Realizamos a Rotina como um jogo de argumentação e convencimento, onde os estudantes usaram os adjetivos para definir os personagens, os fatos e acontecimentos que apoiaram as suas ideias .
Em grupos, os alunos escolheram o escriba, o controlador do tempo, o repórter e o organizador. Escreveram em forma de lista, as virtudes do personagem escolhido e levantaram fatos que apoiavam suas defesas e acusações.
Após o término do tempo proposto, dividimos a sala de aula com uma linha que faria a separação física dos lados opostos. Os alunos se sentaram de frente uns para os outros e começaram a relatar as conversas e anotações feitas em grupo. Foi muito interessante notar, que alguns se sentiam convencidos pelos argumentos do lado oposto e pediam para mudar de lado. Outros, por sua vez, decidiram criar uma terceira posição, o lugar dos indecisos ou dos que acreditavam que os dois personagens tinham pontes fortes e fracos.
Compartilho os depoimentos que levaram os alunos, posteriormente, a identificação dos variados grupos de adjetivos em suas próprias falas:
“A árvore era muito gentil e preocupada”.
“O menino não era muito educado”.
“O menino era ingrato e egoísta, pois se importou pouco com a árvore”.
“Se o menino tivesse levado seus filhos e netos para brincar na árvore, ela teria ficado feliz a vida inteira e ele não teria permitido que ela desse as partes do seu corpo”.
“O menino era injusto e queria tudo para ele”.
“A árvore era generosa e inocente demais e o menino muito exigente”.
Por fim, os alunos estabeleceram uma boa relação entre a história e suas experiências pessoais, demonstrando a visão que eles têm das relações humanas. Entenderam o poder das palavras para descrever um sentimento, uma intenção, virtudes, defeitos e características.
A Rotina do Cabo de Guerra foi concluída com o uso de Post it, onde cada aluno escreveu as palavras que gostaria de lembrar e anexaram ao pôster da sala de aula para serem usados como referência de escrita.
Outra atividade proposta, foi o registro em uma das páginas do Caderno de Adjetivos, onde os alunos individualmente registraram as principais virtudes e características de cada personagem de acordo com suas opiniões. Após esta etapa, os alunos estavam prontos para reescrever a história no caderno “Formando Escritores”.
Para os alunos com dificuldades de leitura, escrita, foco e atenção, foi oferecido a atividade de diferenciação, que evidenciou o aprendizado por meio de desenhos e escrita.
Após quase um semestre de trabalho consistente e significativo, todos os resultados obtidos durante o processo, foram observados e avaliados para que pudéssemos evidenciar o aprendizado dos alunos. Para isso, uma rubrica de avaliação nos ajudou a mensurar o quanto os estudantes haviam se apropriado do uso dos adjetivos e incorporado essa estrutura em suas escritas.
Espero que a experiência compartilhada possa contribuir para uma rede de educadores interessados em inovação para uma educação do século XXI, onde os estudantes aprendem de forma ativa e participativa. Com estratégias simples, mas poderosas, podemos visualizar e entender os processos dos pensamentos e a construção do conhecimento.
Paula Castro
Respostas de 2
Que relato lindo Paula! Adorei! Parabéns!!! Que potente as discussões, perguntas, desenhos e comentários dos alunos durante o cabo de guerra sobre o livro “A Árvore Generosa”! Fiquei com uma dúvida: NO que foi a rubrica OET? Como foi construída e como foi usada em aula? (Julia escrevendo como Ativa!)
Obrigada Júlia, divido os créditos com você! A rubrica foi construída para apoiar a observação de todo o processo. A avaliação formativa permitiu que cada atividade realizada fosse olhada de perto, não com o objetivo de quantificar os resultados ou categorizar os alunos em níveis. Eu usei a rubrica para verificar o quanto os alunos estavam se apropriando dos conceitos dos adjetivos, com relação a função que eles exercem no texto, e se os estudantes estavam ou não se tornando independentes e seguros em usá-los. A rubrica apresentada aponta o “observador”, como aquele que sabe explicar o que são adjetivos, porém não conseguiu usá-los no texto sem ajuda do professor. O “envolvido”, fez associação entre o substantivo e o adjetivo, os usou nas produções de forma espontânea e as vezes com o apoio do professor. Por fim o “transformador”, demonstrou boa apropriação quando criou sentenças mais complexas preocupando-se com a função dos adjetivos dentro do texto, usando-os em alguns momentos de forma mais intuitiva e em outros recorrendo ao material de apoio criado para diversificar mais o vocabulário. Como o objetivo era apresentar o resultado do projeto por meio de evidências de aprendizagem, a apresentação de quatro produções de cada aluno e a rubrica para cada uma delas, nos permitiu visualizar em que momento do desenvolvimento dessa habilidade, cada aluno se encontra e a partir daí planejar novas estratégias para os que ainda não se apropriaram do conceito.