Aprendizagens Visíveis e Rotinas de Pensamento, já pensou nessas ideias?

Você já ouviu falar em Aprendizagem Visível? Imagina o que significa esse termo?

Proporcionar uma Aprendizagem Visível é buscar tornar o que acontece dentro de cada estudante mais visível: como ele está elaborando sentidos e significados sobre o que está aprendendo? Aprendizagem Visível é, assim, a concepção de tornar o processo e as evidências de aprendizagem dos estudantes visíveis e conscientes para todos: professores e estudantes.

Em consequência, esse processo fortalece o engajamento, a criação de sentido e a reflexão sobre a própria aprendizagem, também por e para todos.

Segundo a definição de John Hattie em sua pesquisa Aprendizagem Visível para Professores (HATTIE, 2017, p.14), o ensino e a aprendizagem visíveis ocorrem quando:

“Professores olham a aprendizagem pelos olhos dos alunos e quando alunos se veêm como seus próprios professores.”

Evidente que esse processo de tornar o ensino e a aprendizagem visíveis leva tempo. Para que os alunos desenvolvam atributos para se perceber como seus próprios professores, é necessário toda a educação básica… Esse é um resultado que esperamos encontrar ao final do 3o ano do ensino médio. Assim, a discussão sobre Aprendizagens Visíveis está conectada ao ensino para a compreensão, termo usado por muitos pesquisadores, de Hattie ao Projeto Zero de Harvard aos autores do “Planejamento para a compreensão”, o Planejamento reverso, proposto por Grant Wiggins e Jay Mctighe.

As Aprendizagens Visíveis estão conectadas ao ensino para a compreensão, termo usado por muitos pesquisadores, de Hattie ao Projeto Zero de Harvard aos autores do “Planejamento para a compreensão”, o Planejamento reverso, proposto por Grant Wiggins e Jay Mctighe.

Com essa visão, há mais de 50 anos, temos a proposta de ensino para a compreensão do Projeto Zero, da Faculdade de Educação de Harvard. Dentre muitas de suas inovações, o Project Zero desenvolve a pesquisa Pensamento Visível,  sobre como estimular o pensamento dos estudantes em todas as áreas do conhecimento.

Dessa pesquisa nasceram as propostas de experiências transformadoras com as Rotinas de Pensamento Visível. Podemos defini-las como estruturas e ferramentas que tornam o pensamento e as emoções individuais e coletivas visíveis e documentadas em toda sala de aula que, quando feitas habitualmente, se tornam uma rotina em sala de aula.. 

Você pode estar um pouco confuso agora, então vamos explicar melhor!

Aprendizagem Visível e Pensamento Visível

Podemos dizer que as Aprendizagens Visíveis são aquelas que podem ser facilmente vistas, documentadas e acompanhadas.

Já pensou em conhecer seu próprio pensamento, ter um vocabulário para descrever seus diferentes tipos e saber quando e porque usá-los?

Com as chamadas Rotinas de Pensamento Visíveis, proposta teórico-prática desenvolvida pelo Project Zero da Faculdade de Educação de Harvard, aprendemos sequências de ações ou ideias que devem ser regularmente executadas em diferentes ambientes de aprendizado.

Com essas estruturas para o pensamento, temos acesso a um verdadeiro vocabulário-arsenal que pode ser mobilizado em toda e qualquer sala de aula.

Ou seja, temos a chance de modelar e desenvolver uma verdadeira cultura de pensamento que pode ser seguida de forma intencional e compartilhada para aprimorar o conhecimento, a motivação e o desenvolvimento integral de cada estudante, em qualquer sala de aula. 

Por essa razão, na nossa perspectiva, Aprendizagens Visíveis e Rotinas de Pensamento estão estreitamente conectadas. Isso porque se apoiam mutuamente, unindo currículo, ensino (didática, metodologia) e avaliação no processo e no resultado da aprendizagem.

Dessa forma, a implementação de Aprendizagens Visíveis nas instituições de ensino é extremamente importante pois evidencia a intencionalidade pedagógica da aprendizagem e o desenvolvimento integral de todos e de cada um dos estudantes, como preconizado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Quando trabalhadas por todo corpo docente, esta concepção pedagógica torna explícito o entendimento dos objetivos e conteúdos de ensino com foco na aprendizagem profunda e visível dos estudantes. Deste modo, a Aprendizagem Visível possibilita o compartilhamento de critérios de avaliação e, com ele, favorece a transparência e coerência do processo de ensino e aprendizagem para todos, em especial, para a autorregulação dos estudantes.

Além disso, apoiam na documentação das aprendizagens e o acompanhamento do desenvolvimento dos estudantes, o que favorece que os professores adaptem suas abordagens metodológicas de acordo com as necessidades específicas de cada um. 

Essência da Aprendizagem Visível

Quando pensamos em adotar a Aprendizagem Visível, tanto o ensino quanto o aprendizado são facilitados por meio de estratégias pedagógicas, compartilhamento de ideias e avaliações.

Assim, a maneira como cada estudante está atribuindo sentido e significado à experiência de seu próprio processo de aprender torna-se igualmente importante.

É uma mudança simples, mas muito profunda: professores passam a desenhar oportunidades de aprendizagem pelos olhos dos estudantes e os estudantes passam a ganhar ferramentas para ter consciência e monitorar sua própria aprendizagem (HATTIE, 2017, p.14)..

Já os professores têm a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento das habilidades de reflexão dos estudantes em relação ao seu próprio aprendizado.

Isto é importante, porque os estudantes são mais propensos a serem bem-sucedidos quando compreendem como aprendem e podem monitorar e avaliar seu próprio progresso.

Ademais, essa consciência do processo de aprendizagem pode incentivá-los a buscar outras formas de adquirir conhecimento fora da sala de aula, favorecendo a transferência de conhecimento, atitudes, valores e disposições, o que vem a ser a própria definição de competências (“Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.” (BRASIL, BNCC, 2018, p.4)

Isso significa que, além de transmitir conteúdos, os professores devem estimular o pensamento crítico dos estudantes, motivá-los e dar-lhes feedback constante sobre seu desempenho.

Em resumo, tudo se alinha com a ideia de tornar o processo de ensinar e de aprender mais visível, mais profundo, mais significativo e autoconsciente para todos os sujeitos participantes: dos educadores aos estudantes.

Como resultado, será fortalecida a cultura de pensamento visível em todos os tipos de ambientes de aprendizagem: dentro ou fora das escolas.

Você já ouviu falar no Projeto Zero? Entenda sua importância no processo de aprendizagem e na visão formativa

O Projeto Zero foi fundado na Faculdade de Educação de Harvard por Nelson Goodman com o intuito de investigar como acontecia o aprendizado em artes e através das artes.

Foi nomeado Zero, pois as primeiras pesquisas logo constataram que o que se sabia sobre o aprendizado e desenvolvimento cognitivo e emocional nas artes era quase zero.

Desde então, o zero é sustentado como a base de todas as pesquisas, como uma referência de mergulho na base zero de cada questão em sua complexidade.

A partir disso, a pesquisa sempre articula teoria e prática a começar de pesquisas nas Ciências da Aprendizagem, nos corpos de conhecimento das áreas e na prática junto a educadores, artistas, designers, cientistas, etc. Ou seja, junto às questões reais e autênticas, aos dilemas e desafios profissionais de cada campo.

Tornando o pensamento visível: desenvolvimento e práticas

A pesquisa sobre como tornar o pensamento visível do Project Zero busca desenvolver ferramentas práticas associadas à teoria da disposição ao pensamento. Isto é, para além de aprender conhecimentos, e treinar habilidades cognitivas, o Projeto Zero investiga como se aprende a desejar pensar, ou seja, como se forma a disposição (um desejo em ação) para pensar?

Como se desenvolve um enfoque mais profundo e reflexivo que, para além do slogan de aprender a aprender, signifique um gosto, uma motivação e uma capacidade para pensar, ter curiosidade intelectual e, continuamente, ir além?

Quais tipos de pensamento precisam ser ensinados? Como precisam ser ensinados para criar motivação e disposição efetiva para ir mais fundo? Qual a relação entre pensar e aprender para realmente compreender algo?

Segundo as pesquisas do Project Zero, aprender é um resultado do pensar, não o contrário.

Portanto, ocasiões para pensar com sentido e significado não podem ser casuais, mas sim o centro de um projeto político-pedagógico comprometido em garantir uma aprendizagem profunda dos estudantes.

Isso porque investigar e buscar conexões autênticas é muito mais que ganhar vocabulário e conhecimentos declarativos em uma área: é construir significados, refletir sobre conhecimentos prévios, documentar reflexivamente a aprendizagem, reconhecer mudanças conceituais que vão se desenvolvendo no estudo, ganhar a disposição de continuamente revisitar suas certezas, questioná-las, descartá-las e ampliá-las.

Dessa forma, é também sobre ensinar que aprender conhecimentos, aprender a aprender e aprender a pensar são camadas em progressiva profundidade, imbricadas, de um processo denso pelo qual se desenvolvem competências.

Para tanto, é necessário um sistemático planejamento pedagógico para garantir a definição de ideias e perguntas essenciais que investiguem pensamentos significativos nas diferentes áreas do conhecimento e nas diversas formas de aprendizagem (individual, em pares, em grupos, no coletivo). No mapa conceitual abaixo, de Coinceição Elaine, nossa aluna no curso de Aprendizagens Visíveis que demos no Instituto Singularidades em 2019, vemos a síntese desse pensamento:

Imagem 1: Mapa conceitual sobre Aprendizagens Visíveis da professora Elaine Conceição, anluna do curso “Abordagem Visible Learning: experiências teórico-práticas em metodoologias ativas, aprendizagem criativa e avaliação formativa” que demos no Instituto Singularidades em 2019.

Por que criar estruturas de pensamento para os estudantes?

De acordo com o Projeto Zero, as Rotinas de Pensamento são recursos pedagógicos que ajudam a tornar o aprendizado visível tanto para o estudante quanto para os professores.

São estruturas simples, como perguntas em pequenas etapas, que podem ser utilizadas sozinhas ou em grupo.

Por isso, elas são projetadas para serem práticas, fáceis de memorizar e estimular uma variedade de processos cognitivos e emocionais. Além disso, oferecem facilmente um convite para o trabalho em grupo e são flexíveis o suficiente para se adaptar a qualquer tema de estudo ou ambiente de trabalho.

Assim, as Rotinas de Pensamento são excelentes meios de incentivo para os estudantes serem conscientes de seu contexto e pensar criticamente e reflexivamente sobre o significado de suas observações e ações.

Dessa maneira, as rotinas apoiam o desenvolvimento da flexibilidade cognitiva, da compreensão de diferentes pontos de vista, das evidências de um debate, de um argumento e podem auxiliar, assim, os estudantes na compreensão de temas abstratos, complexos ou polêmicos. E, apesar da simplicidade aparente, as rotinas tornam-se fáceis de memorizar e utilizar, de modo a dar apoio (andaimes) ao pensamento e ao questionamento fundamentado no desenvolvimento de qualquer investigação.

Destaque-se que elas não tornam o conteúdo menos desafiador, mas oferecem maneiras mais simples de apoiar o pensamento dos estudantes – e também  dos professores.

Todas as Rotinas de Pensamento têm algo em comum: são estratégias para estimular a reflexão, normalmente estruturadas em três partes. Por exemplo: “Vejo-Penso-Pergunto” ou “Afirmo-Embaso-Questiono”.

Quer conhecer diretamente a pesquisa do Project Zero e Rotinas de Pensamento no original? Consulte a Caixa de Ferramentas  que foi organizada no site do Project Zero e o projeto Visible Thinking. A Todas as Rotinas estão apresentadas em inglês e espanhol. Estamos trabalhando em traduções oficiais em português.

Na Caixa de Ferramentas, você já encontra exemplares em português para: vejo-penso-pergunto, bússola, conecto-estendo-desafio, Eu pensava que…agora penso que , O que te faz dizer isso? No site do Projeto Agency by Design, você encontra mais rotinas de pensamento em português Pense-Sinta-Se Importe, Imagine Se, Partes-Perspectivas- E Eu, Partes-Pessoas-Interações, Partes-Propósitos-Complexidades. 

Neste sentido, estas estruturas simples não necessitam de conhecimentos prévios para serem experimentadas.

O que posso ver? O que penso sobre isso? O que posso perguntar, supor ou imaginar? E o que posso afirmar a partir destas ideias? Quais são as evidências que me permitem fundamentar meu raciocínio? Que questões posso levantar, hipotetizar ou indagar com base nas minhas próprias afirmações?

Rotinas de Pensamento foram criadas para tornar explícito e possibilitar dar nome aos processos mentais, possibilitando o hábito de pensar estrategicamente, alcançando desenvolvimento em todas as áreas, evoluindo a um só tempo:

  • Capacidades perceptivas e sensoriais (olhar bem de perto, apreender mais atentamente fenômenos e identificar evidências, fatos, dados);
  • Capacidades cognitivas (o pensar intencional e cuidadoso, visando aprofundar a compreensão, as causalidades, as relações entre o observável e a reflexão sobre o que se observa, articulando evidências);
  • Capacidades motivacionais (a emoção, a empatia, a articulação de diferentes pontos de vista, a disposição, inclinação ou motivação para buscar conexões, desdobramentos ou novos questionamentos, usando o pensamento, a intuição e mesmo a emoção continuamente, como um ciclo).

Organizar nossos pensamentos e rotinas nos ajuda a ter foco e clareza 

Em linhas gerais, podemos nos referir às Rotinas de Pensamento como padrões recorrentes de raciocínio que nos ajudam a processar informações, sentimentos e tomar decisões.

Imagens 2, 3 e 4: Rotinas de Pensamento Zoom e Vejo-Penso-Pergunto sobre imagem histórica sobre 1989, Queda do Muro de Berlim. Fonte: Foto: GERARD MALIE / AFP/11-11-1989 encontrada em: <https://oglobo.globo.com/mundo/queda-do-muro-de-berlim-dia-em-que-mundo-mudou-24070411>. Último acesso em 20/03/2023.

Assim, passamos a ter uma base segura para lidar com problemas e atingir as melhores soluções de maneira mais consciente e refletida. Entre os principais exemplos de pensamentos favorecidos pelas rotinas, temos a observação atenta, a análise, a comparação, a experimentação e a criação de hipóteses. Assim, quanto melhor desenvolvidos forem esses pensamentos, melhor será o aprendizado de todos os estudantes, em todas as áreas do conhecimento.

Tratam-se de ideias simples e profundamente transformadoras, por isso podemos mesmo afirmar: a proposta das Rotinas de Pensamento Visível são revolucionárias!

Se mobilizadas com criticidade e aplicadas com pertinência a cada momento, trazem ao professor mais clareza e intencionalidade pedagógica em suas ações e em seu planejamento. Aos estudantes, favorecem flexibilidade cognitiva, ampliação de repertório, aprendizagem profunda e desenvolvimento de autonomia para pensar, questionar, escolher, criar, propor. 

Ao mesmo tempo, oferecem um meio inspirador para aprimorar o pensamento crítico, estimular a colaboração  e a criação entre colegas. E o melhor: são um verdadeiro arsenal para nosso uso e adaptação em diversos contextos, presenciais ou online. Veja na nossa Comunidade de Práticas em Aprendizagens Visíveis inúmeros exemplos, do final da Educação Infantil ao Ensino Médio, em diferentes áreas do conhecimento e segundo as práticas de professores: desenvolvimento da linguagem oral e contação de histórias no 1o ano, por Paula Castro; Rotinas de leitura e sistematização de interpretações com 4os e 5os anos de Danielly Abud; resolução de problemas matemáticos e representação da compreensão das frações em 4os e 5os anos de Sandra Mônica Paulos;  leitura de contos e livros clássicos de Machado de Assis com 9os anos por Jacqueline Fioreli; leitura de filme e experimentação mão na massa nos 9os anos com Diogo Nascimento; desenvolvimento de autoconhecimento e planejamento em aulas de projetos de vida, de Janaina Cunha.

Como diria Ron Richhard, pesquisador do Projeto Zero dedicado à anos ao projeto Visible Thinking, “para que a sala de aula tenha essa cultura de pensamento é imprescindível que a sala dos professores também a tenha…”. Esse então é um convite para você mergulhar nesse estudo entre pares, convidando também outros professores a se juntarem nessa pesquisa teórico-prática!

Nós, na Ativa Educação, não vivemos sem! E você? Conte para nós como essas ideias se conectam com sua escola, com sua sala de aula e venha compartilhar conosco na Comunidade de Práticas em Aprendizagem Visível no nosso blog!

Quer aprofundar esse tema e ler mais? Veja a introdução do nosso livro “Arendizagens Visíveis: experiências teórico-práticas em sala de aula” (Pandabooks, 2021), disponível na super biblioteca do nosso site!

Referências Bibliográficas

ANDRADE, J.(org.) Aprendizagens Visíveis: experiências teórico-práticas em sala de aula. 1a. Ed. São Paulo: Panda Educação. 2021.

HATTIE, J. Aprendizagem visível para professores. Porto Alegre: Penso Editora, 2017.

PERKINS, D. Future wise: Educating our children for a changing world. Nova Jersey: John Wiley & Sons, 2014.

_____.; JAY, E.; TISHMAN, S. Beyond abilities: A dispositional theory of thinking.

Merrill-Palmer Quarterly (1982-), 1993.

RITCHHART, R. Creating cultures of thinking: The 8 forces we must master to truly

transform our schools. Nova Jersey: John Wiley & Sons, 2015.

_____.; CHURCH, M. The power of make thinking visible. Practices to engage and

empower all learners. São Francisco: Jossay-Bass, 2020.

_____.; _____.; MORRISON, K. Making thinking visible: How to promote engagement, understanding, and independence for all learners. São Francisco: Jossay-Bass, 2011.

ZERO, Project. Tornando visível a aprendizagem: crianças que aprendem indivi-

dualmente e em grupo. São Paulo: Phorte, 2014.

2 respostas

  1. As rotinas de pensamentos são caminhos reais que levam a aprendizagem de fato. Depois que conheci, não consegui mais largá-las. Todos deveriam usar.

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